Algo especial acontece em Laguna, no Sul de Santa Catarina, quando pescadores e botos se encontram. Quase diariamente, as duas espécies colaboram para pescar juntas na Lagoa Santo Antônio dos Anjos. Esse trabalho em equipe funciona da seguinte forma: os cetáceos têm a função de encurralar os cardumes e dar um sinal — um salto enérgico, conhecido como “pulo do boto”. Já os pescadores devem lançar a tarrafa e garantir que todos sejam recompensados com os peixes do dia, ficando os humanos com os apanhados na rede, e os botos com os que escapam.
A pesca cooperativa entre humanos e botos é uma interação rara, mas que também acontece em outros países. Os botos nada mais são que uma subespécie dos golfinhos Tursiops truncatus, conhecidos como “nariz-de-garrafa”, comuns no mundo todo e famosos pela inteligência. A espécie já estrelou, por exemplo, a série de TV Flipper, de 1964, e o filme de mesmo nome, de 1996. Também é a atração principal de shows com animais marinhos em parques aquáticos, como o SeaWorld, na Flórida.
No Sul do Brasil, principalmente no litoral, os golfinhos são chamados de botos. E pescam não somente em Laguna, mas também na divisa entre Tramandaí e Imbé, no Rio Grande do Sul. Nas duas localidades, a prática é repassada de geração em geração, desde o início do século 20. Em Santa Catarina, por exemplo, o primeiro registro é de 1905, no livro Chorographia de Santa Catarina, de Vieira da Rosa.
A pesca acontece em 46 pontos da Lagoa Santo Antônio dos Anjos, a partir da Praia da Tesoura, ponto mais emblemático e onde os pescadores formam uma fila na água, até o meio do estuário, onde a pesca é embarcada. Dos cerca de 60 botos que vivem na lagoa, mais ou menos 25 deles pescam (ou são “botos bons”, na linguagem dos pescadores).
Esses animais já se tornaram quase cidadãos lagunenses, pois são reconhecidos e têm até nome. Há Natalino, que nasceu no Natal, e Princesa, que tem um machucado na face direita da nadadeira dorsal, também chamada de galha. Outro se chama Mama-Em-Pé, que demorou para se separar da mãe, e Molha-Roupa, que gosta mais de brincar do que de pescar.
– O Molha-Roupa é um botinho meio louco. Às vezes a gente tá de bermuda, roupa e macacão, ele chega ali pulando igual um maluquinho. Aí a gente vai pra água, só molha a roupa e ele vai embora – diverte-se o pescador Juarez Pacheco, conhecido como “Neguinho Ju”, de 50 anos.
A identificação dos botos acontece pelos gestos e também pelas galhas, que às vezes têm cicatrizes ou lesões. Os pescadores garantem que os botos também reconhecem os humanos.
– Se você estiver longe, o boto faz todo o gesto para tu ir lá. Se tu não for, ele pega o peixe e vem trazer para ti – descreve Ademir dos Santos, de 69 anos, que pesca na região desde os 11.
Nas imediações da Praia da Tesoura, em uma área coberta por árvores, há um cemitério dedicado aos botos que já morreram. Cruzes brancas foram plantadas no chão com os nomes de animais emblemáticos da região, como Lata, Batman e Robin.
Caroba, que morreu em 2022, aos 57 anos, também ganhou um registro especial: “Amigos para sempre”, diz uma placa com foto. “Nunca vamos te esquecer. Lutaremos pela sobrevivência de sua família”, continua o letreiro.
– É que tu tens conhecimento de uma prática junto com o animal. É a mesma coisa que a mãe com o filho: quando o filho sai, ela fica sempre preocupada — diz Ademir.
Mais do que uma relação “de trabalho”, os humanos desenvolvem afeto pelos animais. Alguns continuam indo até a lagoa para ver os botos mesmo quando não tem peixe. Os pescadores também buscam ensinar os animais mais jovens a pescar melhor, de acordo com pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que estudam a atividade em Laguna e Tramandaí.
— O Natalino, que era um boto que eles falavam que era muito ruim [na prática], um pescador nos relatou que muitas vezes o grupo lançava a tarrafa mesmo quando não tinha peixe para ele ver que tem uma resposta, não ficar sozinho e não desistir daquela pesca — conta Beatriz Búrigo, pesquisadora integrante do grupo de pesquisa Coletivo de Estudos com Ambientes, Percepções e Práticas (Canoa).
Mas e da parte dos botos, qual é a vantagem da pesca? É fato que a alimentação é um dos benefícios, mas não é o único — afinal, eles poderiam comer peixes normalmente, no mar, como outros golfinhos nariz-de-garrafa.
Uma das hipóteses é que a espécie tenha um certo prazer com a atividade, de acordo com Pedro Castilho, professor e coordenador do Laboratório de Zoologia da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), que monitora os botos desde a década de 1990:
— O boto passa aquele tempo pescando, interage, se diverte e isso é revertido em energia. (…) Então, ali tem um momento em que algo acontece e que, de alguma forma, traz, eu diria, um prazer, uma vantagem, algo que ocupa aquele tempo.
No município de Laguna, com seus 42 mil habitantes e o terceiro mais antigo de Santa Catarina, os botos se tornaram um símbolo. Em um dos principais pontos de pesca, em frente aos molhes da Praia da Barra, há um monumento em homenagem ao animal. Além disso, restaurantes da cidade têm fotografias dos botos penduradas nas paredes e um hotel foi batizado de Flipper, em referência ao filme americano de 1996 que retratou a espécie.
Em 2018, a prática foi reconhecida como patrimônio imaterial do Estado de Santa Catarina pela Fundação Catarinense de Cultura (FCC). Agora, um projeto busca tornar a pesca com botos um patrimônio cultural imaterial do Brasil junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
O processo de registro começou com um pré-inventário feito através de um edital do Iphan. Em Laguna, a Pastoral da Pesca, vinculada à Diocese de Tubarão, solicitou a inscrição do registro da pesca artesanal com auxílio de botos em 2017. Dois anos depois, a Associação Comunitária de Imbé (Braço Morto), sediada em Imbé (RS), também fez o mesmo pedido.
Por serem muito similares, o Iphan juntou os dois processos em um único, criando um dossiê em conjunto com o grupo Canoa, da UFSC. Este documento inclui levantamentos gráficos, fotográficos, filmes e registros com pescadores de Laguna e Tramandaí/Imbé. Após a conclusão, ele será remetido ao Iphan para laudos técnicos e considerações.
A previsão é de que o Conselho Nacional do Patrimônio Cultural, órgão deliberativo do Iphan, faça uma votação para decidir pelo registro até abril do ano que vem.
— O boto é um símbolo de Laguna e também da Barra do Tramandaí. E goza, digamos assim, de reconhecimento e de afeto, de familiaridade, pelas comunidades do entorno, não só das famílias e dos próprios pescadores. Existe em ambos os casos uma mobilização por esse reconhecimento — diz Caetano Sordi, coordenador do projeto da UFSC de instrução técnica do registro da pesca com auxílio de botos como patrimônio cultural do Brasil.
Caso seja aprovada, a pesca com botos se tornaria a segunda atividade específica de Santa Catarina a virar patrimônio nacional, depois da Procissão Senhor dos Passos, de Florianópolis, reconhecida em 2018. O Estado também conta com outros quatro patrimônios: a Roda de Capoeira, o Ofício dos Mestres e Mestras de Capoeira, o Choro e o Ofício das Parteiras, que têm abrangência nacional.
— O simples fato de se registrar essa prática já é importante, porque vai ficar guardada e para as próximas gerações verem como é que era feito agora. E ao mesmo tempo, a partir desse registro, a gente trabalha com a comunidade um plano de salvaguarda com ações que podem ser feitas para preservar esse patrimônio — explica Vladimir Stello, servidor do escritório técnico de Laguna do Iphan.
Assim como na cidade catarinense, a pesca em Tramandaí é secular e um símbolo da região. Mas há diferenças. A principal é o sinal dos botos — enquanto em Laguna há o “pulo do boto” (na Praia da Tesoura) ou a batida do rabo na água (na pesca embarcada), em Tramandaí há a “corrida do boto”, mais dinâmica, com o animal trazendo o cardume em direção aos pescadores e sinalizando com cabeçadas. Também há menos botos pescadores na cidade gaúcha: são 10, diante dos 25 do município do Sul do Estado.
— São poucos lugares no mundo onde isso ocorre. E aqui no Sul do Brasil, há pelo menos um século de continuidade histórica. É algo que sobrevive, que prospera, que se relaciona e encontra meios de continuar existindo e sendo praticado, mesmo com as mudanças que esses estuários foram passando ao longo do tempo — pontua Cateano Sordi.
Pedro Castilho é coordenador do Laboratório de Zoologia da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), que monitora os botos desde a década de 1990
Mas o que faria a pesca com botos, uma tradição secular, desaparecer? Em Araranguá, no Sul do Estado, isso aconteceu. Até meados dos anos 2000, havia uma forte cultura de pesca com os animais no balneário Barra Velha. No entanto, a atividade parou, possivelmente devido à instalação de redes fixas que causavam emalheamentos.
Em Laguna, os botos convivem com várias ameaças, como a captura acidental em redes de pesca ilegais, a poluição da água e o aumento do tráfego de embarcações. A pesca depende de um equilíbrio delicado entre boto, estuário, tainha e pescador. Se a continuidade de um desses elementos é prejudicada, toda a prática pode ser afetada.
— Se qualquer um desses tiver problema, a interação desaparece. São vários componentes. A gente vem perdendo alguns botos, a gente tem problema com a água, que pode diminuir a qualidade do peixe, e a gente ainda tem pescadores que eventualmente se renovam numa velocidade menor — pontua Pedro Castilho
Em 2022, por exemplo, a comunidade perdeu a fêmea Caroba, imortalizada no cemitério de botos. Ela sofreu uma lesão fúngica que prejudicou sua imunidade e nadou até o Rio Tubarão, onde morreu aos 57 anos.
— Era uma bota que quando pulava, tu podia contar que o peixe tava debaixo da tua tarrafa. Não tinha como tu errar. Era um boto experiente — recorda o pescador Ademir dos Santos.
Assim como Caroba, outros botos vêm sofrendo com lesões de origem fúngica, na qual os fungos se proliferam em ferimentos pré-existentes na pele dos botos — adquiridos em acidentes com redes de pesca, por problemas virais ou em brigas entre eles. Atualmente, entre 21% e 25% da população têm esses tipos de lesões, de acordo com o Laboratório de Zoologia da Udesc.
— Para uma lesão estar começando a crescer de uma forma exponencial, é porque tem um agravante, uma condição que está acelerando esse processo de proliferação do fungo — pontua o professor Pedro Castilho.
Depois da morte de Caroba, ficaram botos mais jovens e inexperientes. Alguns ganharam apelidos — como Natalino, que passou a ser chamado de “Arranca-Braço”, porque dava sinais falsos para os pescadores jogarem a tarrafa.
— Ele vê o peixe, ele pula, mas não sabe onde que deixa (o peixe). Não aprendeu. Não teve o pai e a mãe que sabia e ensinava direitinho. Antigamente tinha o Tafarel, o Latinha. Eram botos bons, que as mães ensinaram — disse um pescador.
Tornando a pesca com botos um patrimônio cultural imaterial, a comunidade teria uma ferramenta para cobrar instituições pela preservação.
— Não adianta eu ficar querendo proteger os botos ou o comportamento se eu não começar a olhar para água e para o ambiente onde ele vive. Se o ambiente não for agradável, talvez não adianta ter pescador, não adianta ter outros, que a situação não vai rolar — fala o professor Pedro Castilho.
A boa notícia é que, em Araranguá, a pesca com botos voltou. A partir de 2021, alguns animais começaram a circular novamente na cidade, esporadicamente, principalmente no verão. Ao menos três já interagiram com pescadores.
Segundo o pesquisador Rodrigo Machado, que tem o projeto Botos de Araranguá na Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc), tudo indica que os botos aprenderam a cooperar em outro lugar, provavelmente em Tramandaí ou Torres, no Rio Grande do Sul, onde já houve pesca cooperativa.
— A gente tem encontrado os animais durante todo o ano, na região de Araranguá, mas entrando na barra e participando da pesca, tem sido sazonal — diz.
Esses animais identificaram, em Araranguá, a presença dos mesmos elementos do lugar onde aprenderam a prática: estuário, tainha, pescador e tarrafa.
— Isso mostra que, mesmo nos lugares onde essa continuidade histórica é interrompida, dependendo do caso, ela pode retornar — vislumbra Caetano Sordi, pesquisador da UFSC.
Pedro Castilho é coordenador do Laboratório de Zoologia da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), que monitora os botos desde a década de 1990
Mas o que faria a pesca com botos, uma tradição secular, desaparecer? Em Araranguá, no Sul do Estado, isso aconteceu. Até meados dos anos 2000, havia uma forte cultura de pesca com os animais no balneário Barra Velha. No entanto, a atividade parou, possivelmente devido à instalação de redes fixas que causavam emalheamentos.
Em Laguna, os botos convivem com várias ameaças, como a captura acidental em redes de pesca ilegais, a poluição da água e o aumento do tráfego de embarcações. A pesca depende de um equilíbrio delicado entre boto, estuário, tainha e pescador. Se a continuidade de um desses elementos é prejudicada, toda a prática pode ser afetada.
— Se qualquer um desses tiver problema, a interação desaparece. São vários componentes. A gente vem perdendo alguns botos, a gente tem problema com a água, que pode diminuir a qualidade do peixe, e a gente ainda tem pescadores que eventualmente se renovam numa velocidade menor — pontua Pedro Castilho.
Em 2022, por exemplo, a comunidade perdeu a fêmea Caroba, imortalizada no cemitério de botos. Ela sofreu uma lesão fúngica, que prejudicou sua imunidade, e nadou até o Rio Tubarão, onde morreu aos 57 anos.
— Era uma bota que quando pulava, tu podia contar que o peixe tava debaixo da tua tarrafa. Não tinha como tu errar. Era um boto experiente — recorda o pescador Ademir dos Santos.
Assim como Caroba, outros botos vêm sofrendo com lesões de origem fúngica, na qual os fungos se proliferam em ferimentos pré-existentes na pele — adquiridos em acidentes com redes de pesca, por problemas virais ou em brigas entre eles. Atualmente, entre 21% e 25% da população têm esses tipos de lesões, de acordo com o Laboratório de Zoologia da Udesc.
— Para uma lesão estar começando a crescer de uma forma exponencial, é porque tem um agravante, uma condição que está acelerando esse processo de proliferação do fungo — pontua o professor Pedro Castilho.
Depois da morte de Caroba, ficaram botos mais jovens e inexperientes. Alguns ganharam apelidos — como Natalino, que passou a ser chamado de “Arranca-Braço”, porque dava sinais falsos para os pescadores jogarem a tarrafa.
— Ele vê o peixe, ele pula, mas não sabe onde que deixa (o peixe). Não aprendeu. Não teve o pai e a mãe que sabia e ensinava direitinho. Antigamente tinha o Tafarel, o Latinha. Eram botos bons, que as mães ensinaram — disse um pescador.
Tornando a pesca com botos um patrimônio cultural imaterial, a comunidade teria uma ferramenta para cobrar instituições pela preservação.
— Não adianta eu ficar querendo proteger os botos ou o comportamento se eu não começar a olhar para água e para o ambiente onde ele vive. Se o ambiente não for agradável, talvez não adianta ter pescador, não adianta ter outros, que a situação não vai rolar — fala o professor Pedro Castilho.
A boa notícia é que, em Araranguá, a pesca com botos voltou. A partir de 2021, alguns animais começaram a circular novamente na cidade, esporadicamente, principalmente no verão. Ao menos três já interagiram com pescadores.
Segundo o pesquisador Rodrigo Machado, que tem o projeto Botos de Araranguá na Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc), tudo indica que os botos aprenderam a cooperar em outro lugar, provavelmente em Tramandaí ou Torres, no Rio Grande do Sul, onde já houve pesca cooperativa.
— A gente tem encontrado os animais durante todo o ano, na região de Araranguá, mas entrando na barra e participando da pesca, tem sido sazonal — diz.
Esses animais identificaram, em Araranguá, a presença dos mesmos elementos do lugar onde aprenderam a prática: estuário, tainha, pescador e tarrafa.
— Isso mostra que, mesmo nos lugares onde essa continuidade histórica é interrompida, dependendo do caso, ela pode retornar — vislumbra Caetano Sordi, pesquisador da UFSC.
Os golfinhos Tursiops truncatus transitam pela costa brasileira, principalmente no Sul do Brasil, e se estendem pelo Uruguai e Argentina, inclusive em locais como Florianópolis e Foz do Iguaçu.
Além de Laguna e Tramandaí/Imbé, a espécie interage com pescadores em Araranguá, no Sul Catarinense, e Torres, no Norte gaúcho, mas de forma esporádica.
Os golfinhos Tursiops truncatus transitam pela costa brasileira, principalmente no Sul do Brasil, e se estendem pelo Uruguai e Argentina, inclusive em locais como Florianópolis e Foz do Iguaçu.
Além de Laguna e Tramandaí/Imbé, a espécie interage com pescadores em Araranguá, no Sul Catarinense, e Torres, no Norte gaúcho, mas de forma esporádica.
Flipper é uma controvérsia em Laguna. Foi o nome de um boto pescador que foi capturado da lagoa, em 1984, e levado para o Oceanário de São Vicente, no Litoral de São Paulo. Lá, foi treinado para dar saltos, piruetas e fazer truques com bolas de futebol, e se tornou famoso na região.
Em 1991, porém, uma campanha ambientalista ganhou força para tirar Flipper do oceanário e levar de volta para Laguna. No ano seguinte, a Sociedade Mundial de Proteção Animal (da sigla em inglês WSPA) conseguiu na Justiça o direito de reabilitar e devolver o animal ao mar.
Em 17 de janeiro de 1993, Flipper foi sedado e tirado do litoral de São Paulo em uma operação que reuniu 4 mil pessoas nas areias da praia do Itararé. Ele foi levado de helicóptero a Laguna e ficou três meses vivendo em um cercadinho, onde aprendeu a caçar o próprio alimento e reconheceu os sons do mar. Em março de 1993, Flipper finalmente ganhou o mar.
Mas a história não teve um final feliz. Rejeitado pelos botos de sua terra natal, ele vagou sozinho em direção ao Norte, até chegar ao litoral paulista novamente. Lá, foi avistado com ferimentos e cicatrizes. A última vez que Flipper foi visto foi em 1995, no Paraná. Até hoje, ninguém sabe o que aconteceu com o animal.
Flipper é uma controvérsia em Laguna. Foi o nome de um boto pescador que foi capturado da lagoa, em 1984, e levado para o Oceanário de São Vicente, no Litoral de São Paulo. Lá, foi treinado para dar saltos, piruetas e fazer truques com bolas de futebol, e se tornou famoso na região.
Em 1991, porém, uma campanha ambientalista ganhou força para tirar Flipper do oceanário e levar de volta para Laguna. No ano seguinte, a Sociedade Mundial de Proteção Animal (da sigla em inglês WSPA) conseguiu na Justiça o direito de reabilitar e devolver o animal ao mar.
Em 17 de janeiro de 1993, Flipper foi sedado e tirado do litoral de São Paulo em uma operação que reuniu 4 mil pessoas nas areias da praia do Itararé. Ele foi levado de helicóptero a Laguna e ficou três meses vivendo em um cercadinho, onde aprendeu a caçar o próprio alimento e reconheceu os sons do mar. Em março de 1993, Flipper finalmente ganhou o mar.
Mas a história não teve um final feliz. Rejeitado pelos botos de sua terra natal, ele vagou sozinho pelo mar em direção ao Norte, até chegar ao litoral paulista novamente. Lá, foi avistado com ferimentos e cicatrizes. A última vez que Flipper foi visto foi em 1995, no Paraná. Até hoje, ninguém sabe o que aconteceu com o animal.