Testemunhas da história de Joinville

No dia em que a cidade celebra 172 anos de fundação, AN conta a história cheia de curiosidades, nomes famosos, orgulho e pertencimento da Rua das Palmeiras, cartão-postal de Joinville cuja trajetória se mistura com a do próprio município

Testemunhas da história de Joinville

No dia em que a cidade celebra 172 anos de fundação, AN conta a história cheia de curiosidades, nomes famosos, orgulho e pertencimento da Rua das Palmeiras, cartão-postal de Joinville cuja trajetória se mistura com a do próprio município

De jardim dos príncipes a cartão-postal da cidade, a Rua das Palmeiras ganhou protagonismo próprio. São tantos os personagens e acontecimentos que cruzaram os seus cerca de 200 metros, que torna-se possível contar a história de Joinville a partir da alameda. Ao longo de 150 anos, a via atravessou por entre épocas e até trocou de nome, mas se manteve com pequenas alterações. Por outro lado, a cidade mudou muito e, testemunhas da ação do tempo, 39 das 56 palmeiras plantadas originalmente permanecem vivas e foram espectadoras do desenvolvimento econômico e populacional da então Colônia Dona Francisca, que celebra o 172° aniversário neste 9 de março. 

 

Inicialmente, a via foi idealizada para ser o quintal da mansão construída pelo engenheiro francês Frédéric Brüstlein (onde hoje funciona o Museu Nacional de Imigração e Colonização, na Rua Rio Branco), administrador das terras do príncipe e da princesa de Joinville. Mas, com o passar das décadas, tornou-se independente e, de forma natural, incorporou a função de jardim para todo joinvilense.

 

Da região central, acompanhou a abertura de ruas adjacentes no século 19, o início de tradicionais comércios, a troca das carroças pelos veículos a motor e foi palco de grandes eventos. Nem os gigantescos prédios construídos no entorno foram capazes de ofuscar a sua beleza e esplendor. Por fim, como bem cita o historiador Dilney Cunha, incorporou-se definitivamente ao cotidiano e ao imaginário dos moradores como paisagem icônica, conforme representado em cartões-postais da época.

Joinville completa

172 anos

no dia 9 de março

“Partout le cocotier!”

Tudo começou em 1867, quando Frédéric Brüstlein, administrador das terras do príncipe François Ferdinand (da família tradicional francesa Orléans) e da princesa Francisca Carolina (filha do imperador Dom Pedro I), mandou construir o palacete nas terras que pertenciam aos membros da família real, doadas como dote por Dom Pedro I. O imóvel seria a casa e escritório do representante do casal real, de onde tocaria os negócios da realeza. A mansão foi erguida também com a intenção de abrigar o casal de príncipes, em caso de uma eventual visita. 

 

A Maison Joinville, assim intitulada por Frédéric, teve as obras concluídas em novembro de 1870, quando a cidade ainda não contava com 5 mil habitantes. Enquanto a construção era erguida, o procurador já havia projetado o caminho de acesso ao palacete, a atual Rua das Palmeiras. E, quatro anos antes, a pedido dele, o então diretor da Colônia Dona Francisca, Johann Otto Louis Niemeyer, viajou ao Rio de Janeiro para buscar as sementes de palmeiras imperiais, doadas por Dom João VI.

 

No livro “Ruas de Joinville”, a jornalista Maria Cristina Dias traz o registro da historiadora Elly Herkenhoff, que cita que, ao pisar em solo brasileiro pela primeira vez, em 1838, o príncipe de Joinville teria exclamado: “Partout le cocotier, mon arbre favor” (“Por toda parte o coqueiro, minha árvore favorita”, em tradução livre). Por este motivo, a planta teria sido a escolhida para embelezar o jardim da realeza. No entanto, o significado é ainda mais nobre: à época, apenas famílias com reconhecimento principesco eram presenteadas pelo imperador com as plantas. 

 

Sendo assim, as sementes da palmeira real chegaram a Joinville em junho de 1867 e foram tratadas até atingirem o ponto de replantio.

 

Segundo a jornalista, no entanto, a data exata da transferência para o “quintal” da família real é alvo de controvérsias. Em uma carta enviada à firma Edouard Bocher, que administrava os bens da família Orléans em Paris, Frédéric dá a entender que o plantio foi no final de 1873, mas um membro da tradicional família Trinks teria dito ao historiador Adolfo Bernardo Schneider que as palmeiras foram plantadas em abril de 1971. O que se tem de concreto, aponta Maria Cristina, é que em 1873 as 56 palmeiras já estavam todas plantadas no caminho que direcionava à Maison Joinville. Conforme registro que consta no folhetim Blumenau em Cadernos, edição de 1962, a despesa com a plantação das mudas foi de 50 mil réis

Ao pisar em solo brasileiro pela primeira vez, em 1838, o príncipe de Joinville teria exclamado: “Partout le cocotier, mon arbre favor” (“Por toda parte o coqueiro, minha árvore favorita”, em tradução livre)

De realeza para realeza

A história narra que o então diretor da Colônia Dona Francisca, Louis Niemeyer, foi o encarregado de buscar as sementes de palmeiras no Rio de Janeiro. Camila Oliveira, condutora de visitação do Jardim Botânico do Rio, conta que a doação foi autorizada por Dom João VI e esta era a forma com que o imperador utilizava para homenagear os grandes aristocratas do império. Portanto, quanto mais palmeiras se tinha, maior era o poder dos que detinham as plantas. 

 

Foi, inclusive, “O Clemente” que plantou a primeira muda da espécie Roystonea oleracea em 1809, chamada por ele mesmo como palmeira imperial e rebatizada anos mais tarde como Palma Mater. A planta morreu em 1972, aos 163 anos. Todas as outras que existem são filhas, netas, bisnetas e tataranetas desta original, conforme cita Camila. 

 

O histórico corredor composto pela aléia de palmeiras imperiais do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, que inspirou a Rua das Palmeiras de Joinville, foi formado apenas em 1840, e também foi constituído por descendentes da Palma Mater. 

 

O terreno onde atualmente abriga o Jardim Botânico – e parte da zona Sul carioca – era uma fazenda de cana-de-açúcar, por volta de 1576. Quando a família imperial pisou em solo brasileiro, em 1808, Dom João tomou posse da fazenda e a transformou, inicialmente, em uma fábrica de pólvora, já que veio ao Brasil fugindo de Napoleão Bonaparte, que ameaçava invadir o reino de Portugal. 

 

— A fábrica de pólvora foi desativada em 1831. E, depois, foi transformada em um jardim de aclimatação de espécies da família real. Eles traziam sementes e especiarias, principalmente da Ásia, como camélia, mangueira e jaca, para fazer experimentos botânicos e aclimatar essas espécies aqui. Assim, foi dado início ao Jardim Botânico que a gente conhece hoje — contextualiza Camila. 

 

A guia de visitação diz que, nos arquivos do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, não está documentada esta doação de mudas para Joinville. No entanto, como a Palma Mater foi a primeira da espécie a ser plantada no país, com base em datas, é possível afirmar que houve, de fato, esta doação. 

 

Atualmente, o local ainda recebe pedidos de doação das mudas de centros de distribuição e instituições que fazem conservação, além de postos militares como Marinha e Exército, por exemplo. Toda solicitação passa por processo de análise.

A palmeira de número 51 da rua traz uma característica única: a bifurcação. A anomalia é extremamente rara e estudada por especialistas até hoje, que criaram diversas teorias para o formato inusitado.

Bifurcação, água do mar e sambaquis

Uma personagem que vive na Rua das Palmeiras desde que a via ainda era jardim e se sobressai às outras é a 51ª, plantada por Fréderic na década de 1870. Ela fica na segunda posição, à direita do Museu Nacional de Imigração e Colonização, e chama a atenção por ser bifurcada, com uma divisão que forma “dois topos”.


Fato raro, várias foram as teorias e mitos criados para explicar a causa desta condição da planta. Uns dizem que alguém teria dado uma machadada no pé da palmeira e a partido ao meio, outros, que ela foi dividida por um raio. Para Jordi Castan, paisagista de Joinville, a planta, do ponto de vista botânico, é excepcional, mas argumenta que essas suposições não passam de misticismo. 


O especialista explica que esta anomalia não é de nascimento e que a palmeira só bifurcou após uma certa altura. Além disso, como já morou no Caribe, país de onde a planta é originária, reforça que o acontecido é atípico e não é de seu conhecimento que outros coqueiros tenham bifurcado desta forma. Ele presume que o fato seja algo inédito no Brasil.

 

— Não é que plantaram duas sementes juntas, não é que começou a germinar e já veio bifurcada. Essa bifurcação aconteceu em algum momento, provavelmente por algum traumatismo, ou machucado. Não é normal que uma bifurcação dessas aconteça do nada, é provável que tenha acontecido algo. Mas é excepcional. É uma em cada um milhão — destaca. 


Outro fato curioso abordado no livro da jornalista Maria Cristina é de que, como as palmeiras imperiais não estavam se desenvolvendo satisfatoriamente na cidade, Fréderic teria utilizado água do mar, trazida de São Francisco do Sul pelo vapor Babitonga, a fim de nutrir a planta. No entanto, Castan afirma que essas palmeiras não são originárias do litoral e acompanham cursos de água doce, por isso, não há nenhuma razão técnica para a utilização da água salgada, já que “não traz nenhuma vantagem adicional da planta”, pontua. 


A abertura da Rua Rio Branco, que corta a Rua das Palmeiras e se localiza em frente à antiga Maison Joinville, também carrega um acontecimento inusitado. Durante a pavimentação da via, segundo Elaine Cristina Machado, coordenadora do Museu de Imigração, foram utilizadas as conchas dos sambaquis de Joinville. Aliás, segundo Elaine, os concheiros eram bastante utilizados para esta finalidade, porque ainda não tinha-se conhecimento da importância deste patrimônio cultural do país.


— No momento da abertura da Rio Branco, a Rua do Príncipe, antiga Rua das Olarias, foi ampliada. A quadra era o Lote 137, que fazia a comunicação daqui do museu com o Porto de Joinville, dada a importância desta casa, onde tinha mais condições de navegabilidade — explica. 

Uma personagem que vive na Rua das Palmeiras desde que a via ainda era jardim e se sobressai às outras é a 51ª, plantada por Fréderic na década de 1870. Ela fica na segunda posição, à direita do Museu Nacional de Imigração e Colonização, e chama a atenção por ser bifurcada, com uma divisão que forma “dois topos”.

 

Fato raro, várias foram as teorias e mitos criados para explicar a causa desta condição da planta. Uns dizem que alguém teria dado uma machadada no pé da palmeira e a partido ao meio, outros, que ela foi dividida por um raio. Para Jordi Castan, paisagista de Joinville, a planta, do ponto de vista botânico, é excepcional, mas argumenta que essas suposições não passam de misticismo. 

 

O especialista explica que esta anomalia não é de nascimento e que a palmeira só bifurcou após uma certa altura. Além disso, como já morou no Caribe, país de onde a planta é originária, reforça que o acontecido é atípico e não é de seu conhecimento que outros coqueiros tenham bifurcado desta forma. Ele presume que o fato seja algo inédito no Brasil.

 

— Não é que plantaram duas sementes juntas, não é que começou a germinar e já veio bifurcada. Essa bifurcação aconteceu em algum momento, provavelmente por algum traumatismo, ou machucado. Não é normal que uma bifurcação dessas aconteça do nada, é provável que tenha acontecido algo. Mas é excepcional. É uma em cada um milhão — destaca. 

 

Outro fato curioso abordado no livro da jornalista Maria Cristina é de que, como as palmeiras imperiais não estavam se desenvolvendo satisfatoriamente na cidade, Fréderic teria utilizado água do mar, trazida de São Francisco do Sul pelo vapor Babitonga, a fim de nutrir a planta. No entanto, Castan afirma que essas palmeiras não são originárias do litoral e acompanham cursos de água doce, por isso, não há nenhuma razão técnica para a utilização da água salgada, já que “não traz nenhuma vantagem adicional da planta”, pontua. 

 

 

A abertura da Rua Rio Branco, que corta a Rua das Palmeiras e se localiza em frente à antiga Maison Joinville, também carrega um acontecimento inusitado. Durante a pavimentação da via, segundo Elaine Cristina Machado, coordenadora do Museu de Imigração, foram utilizadas as conchas dos sambaquis de Joinville. Aliás, segundo Elaine, os concheiros eram bastante utilizados para esta finalidade, porque ainda não tinha-se conhecimento da importância deste patrimônio cultural do país.

 

— No momento da abertura da Rio Branco, a Rua do Príncipe, antiga Rua das Olarias, foi ampliada. A quadra era o Lote 137, que fazia a comunicação daqui do museu com o Porto de Joinville, dada a importância desta casa, onde tinha mais condições de navegabilidade — explica. 

Uma personagem que vive na Rua das Palmeiras desde que a via ainda era jardim e se sobressai às outras é a 51ª, plantada por Fréderic na década de 1870. Ela fica na segunda posição, à direita do Museu Nacional de Imigração e Colonização, e chama a atenção por ser bifurcada, com uma divisão que forma “dois topos”.

 

Fato raro, várias foram as teorias e mitos criados para explicar a causa desta condição da planta. Uns dizem que alguém teria dado uma machadada no pé da palmeira e a partido ao meio, outros, que ela foi dividida por um raio. Para Jordi Castan, paisagista de Joinville, a planta, do ponto de vista botânico, é excepcional, mas argumenta que essas suposições não passam de misticismo. 

 

O especialista explica que esta anomalia não é de nascimento e que a palmeira só bifurcou após uma certa altura. Além disso, como já morou no Caribe, país de onde a planta é originária, reforça que o acontecido é atípico e não é de seu conhecimento que outros coqueiros tenham bifurcado desta forma. Ele presume que o fato seja algo inédito no Brasil.

 

— Não é que plantaram duas sementes juntas, não é que começou a germinar e já veio bifurcada. Essa bifurcação aconteceu em algum momento, provavelmente por algum traumatismo, ou machucado. Não é normal que uma bifurcação dessas aconteça do nada, é provável que tenha acontecido algo. Mas é excepcional. É uma em cada um milhão — destaca. 

 

Outro fato curioso abordado no livro da jornalista Maria Cristina é de que, como as palmeiras imperiais não estavam se desenvolvendo satisfatoriamente na cidade, Fréderic teria utilizado água do mar, trazida de São Francisco do Sul pelo vapor Babitonga, a fim de nutrir a planta. No entanto, Castan afirma que essas palmeiras não são originárias do litoral e acompanham cursos de água doce, por isso, não há nenhuma razão técnica para a utilização da água salgada, já que “não traz nenhuma vantagem adicional da planta”, pontua.

A abertura da Rua Rio Branco, que corta a Rua das Palmeiras e se localiza em frente à antiga Maison Joinville, também carrega um acontecimento inusitado. Durante a pavimentação da via, segundo Elaine Cristina Machado, coordenadora do Museu de Imigração, foram utilizadas as conchas dos sambaquis de Joinville. Aliás, segundo Elaine, os concheiros eram bastante utilizados para esta finalidade, porque ainda não tinha-se conhecimento da importância deste patrimônio cultural do país.

 

— No momento da abertura da Rio Branco, a Rua do Príncipe, antiga Rua das Olarias, foi ampliada. A quadra era o Lote 137, que fazia a comunicação daqui do museu com o Porto de Joinville, dada a importância desta casa, onde tinha mais condições de navegabilidade — explica. 

Fatos e personagens

Antes caminho privado e depois transformada em logradouro público, a Alameda Brüstlein, Palmenallee ou simplesmente Rua das Palmeiras, recebeu diferentes adaptações ao longo do tempo. Além do fluxo diário intenso de pedestres e veículos, o local serviu de palco para eventos e manifestações culturais, como a Semana da Consciência Negra, a Rua do Lazer e as Feiras de Arte e Artesanato nas décadas de 1970 e 1980, e entre 2014 e 2019 a Feira do Príncipe e o Festival do Museu Nacional de Imigração e Colonização, como lembra o historiador Dilney Cunha.  

 

Anos antes, também serviu como espaço para acampamento das tropas federalistas revoltosas que  passaram pela cidade, em 1893, e para desfiles, como o de marinheiros alemães na década de 1920.

 

Além de fatos importantes, personagens que fazem parte da história da cidade também têm certa ligação com a rua. Adolph Haltenhoff, por exemplo, reconhecido como primeiro prefeito de Joinville, entre outros cargos, era empresário dono de uma olaria e doou, em 1866, os tijolos e telhas para o casarão. Já no início do século 20, por volta de 1923, o garoto Albano Schulz, que ainda nem sonhava em ser médico, foi destaque na escola e como prêmio, foi escolhido para replantar uma das palmeiras que haviam morrido. O ato foi presenciado pelas autoridades locais e a comunidade. 

 

Já em 1973, Juarez Machado, renomado artista plástico joinvilense, foi autor do projeto de paisagismo que reformulou a rua, onde o acesso de veículos passou a ser restrito por um boulevard instalado ao centro da via. 

 

O historiador reforça que, de maneira geral, desde nomes importantes a personagens anônimos da cidade, todo joinvilense tem uma relação com a Rua das Palmeiras. Seja porque contribuíram e acompanharam suas mudanças, atravessaram a via ou simplesmente foram desfrutá-la em momentos de lazer.

— Ela é uma paisagem icônica que é levada para fora da cidade como marca. Além de ser um espaço de circulação e de eventos que ocorrem ali, integra muito bem a paisagem urbana. Você reconhece Joinville quando vê a Rua das Palmeiras — exalta Dilney. 

 

Dada a sua importância, a Rua das Palmeiras foi tombada em 2005, via decreto. Este, inclusive, foi o primeiro tombamento municipal da cidade. Dilney lembra que o Cemitério do Imigrante já havia sido reconhecido como patrimônio histórico anos antes, mas em âmbito federal. 

 

— Mas aí tem uma curiosidade. A rua recebeu dois tombamentos. O primeiro foi em 1982, houve uma mobilização à época, foi feito um evento com a presença da imprensa e tudo mais. Só que aí se perderam os registros, a ata, e o próprio decreto. Uma coisa meio estranha. Mas aí em 2005, no aniversário da cidade, foi efetivamente tombada — conta. 

 

Com o alargamento da Rua do Príncipe e abertura da Rua Rio Branco, ainda no século 19, a ideia de jardim dos príncipes foi desvinculada e a Maison Joinville já não fazia mais parte do dito quintal da família real. Com isso, em 1939 o imóvel é tombado e, como afirma a coordenadora do Museu de Imigração,  passa a compor o conjunto paisagístico na região central da cidade. 

 

— A Maison Joinville foi reconhecida como patrimônio dada a sua importância, ao seu estilo arquitetônico neoclássico. O tombamento aconteceu no meio do processo de imigração do Sul do país. Curiosamente, naquele momento, o Isfan (atual Iphan) estava muito preocupado em tombar os bens e natureza pedra e cal ligados ao nosso passado colonizador, do Brasil Colônia. Entretanto, a construção desta casa não ocorre no momento em que o Brasil vivia no período colonial, e sim no período imperial — descreve.

Mudanças ao longo do tempo

O estilo de palmeiras enfileiradas, segundo o paisagista Jordi Castan, não deixa de ser uma herança europeia, mas a rua foi constituída dessa maneira, assim como no Jardim Botânico do Rio, a fim de emoldurar e criar um eixo de perspectiva que direciona a um ponto focal. No caso de Joinville: ao Museu Nacional da Imigração, antigo palacete dos príncipes. 

 

Com o crescimento populacional, e o alargamento das ruas do Príncipe e Rio Branco, na década de 1880, quatro palmeiras precisaram ser sacrificadas — duas de cada extremidade da alameda. Com a vida estimada em cerca de 150 anos, algumas das palmeiras originais plantadas por Fréderic Brüstlein morreram e o primeiro replantio aconteceu no início do século 20. 

 

Por cerca de 90 anos, como aborda Maria Cristina no livro Ruas de Joinville, a via foi caminho de charretes e carros a motor e ganhou ainda mais força como ponto turístico. Em 1973, a então Alameda Brüstlein sofreu sua primeira intervenção de maior impacto, quando foi fechada para o trânsito de veículos, ajardinada e transformada em “boulevard”, com projeto do artista Juarez Machado.

 

A outra foi em 2012, quando a gestão municipal executou um projeto de requalificação, abrindo novamente um caminho central levemente sinuoso para circulação de pedestres. Nesta ocasião, foram também feitos trabalhos arqueológicos no local, durante os quais se encontram vestígios da ocupação daquele espaço, que remontam ao início da colonização da cidade, menciona Dilney Cunha.

 

Jordi Castan, paisagista que esteve envolvido nesta última ação, avalia que, ao longo de 150 anos, houveram mudanças felizes e outras infelizes na Rua das Palmeiras. Ele reforça, entretanto, que essas intervenções que visam a manutenção das palmeiras imperiais, como o replantio das que morrem por idade, por exemplo, são necessárias para que a história seja mantida e o patrimônio preservado.

 

Se olhar a Rua das Palmeiras de longe, dá pra ver claramente que existem  dois tetos de palmeiras: as mais altas, que são mais velhas, e as mais novas, mais baixas. Desta forma, se garantiu que Joinville não ia perder nunca a Rua das Palmeiras — avalia.

Nos dias atuais, o plano do governo municipal é de investir em uma nova iluminação —  tanto ao longo da rua quanto nas palmeiras — e mais segurança para quem circula pelo trecho, com postes anti-choques e estrutura anti-furtos para fios de cobre. A execução deste projeto deve começar em março. 

 

Além do embelezamento, o plano anual é investir ainda mais na saúde e vigor das plantas que cercam o espaço. Guilherme Gassenferth, secretário de Cultura e Turismo, reforça que a via é especial não só pelo aspecto visual e botânico, mas também pelo papel de centralidade que carrega desde os primórdios da Colônia Dona Francisca. 

 

O joinvilense tem uma paixão muito grande pela rua e a enxerga como símbolo máximo da cidade. A maioria do povo joinvilense nasceu com a Rua das Palmeiras já formada, então ela tem essa característica de ser um espaço de orgulho. É por isso que temos o dever de manter ela bem cuidada, para que os turistas, e especialmente quem vive aqui, possam ter este sentimento. Ela é um oásis ao centro: tem pássaros cantando e, mesmo num dia quente, não é tão quente embaixo [das palmeiras]. Um espaço especial de joinville e do joinvilense — pontua.

 

Em maio do ano passado, a prefeitura removeu seis pés de palmeiras da rua, já que cinco estavam mortas e uma com o tronco danificado. A reposição desses pés deve ocorrer nos próximos dias. 

 

O governo municipal também está reformando um prédio que fica na Rua das Palmeiras, erguido no início do século passado e servia como ateliê do fotógrafo Fritz Hofmann. Comprado em 2012 pelo município e será transformado em centro de formação e usado para treinamento da secretaria de Educação. A parte térrea será aberta ao público e contará com galeria de arte e local de conveniência. A previsão é de que as obras sejam concluídas em 18 meses. 

O estilo de palmeiras enfileiradas, segundo Jordi Castan, paisagista de Joinville, não deixa de ser uma herança europeia, mas a rua foi constituída dessa maneira, assim como no Jardim Botânico do Rio, a fim de emoldurar e criar um eixo de perspectiva que direciona a um ponto focal. No caso de Joinville: ao Museu Nacional da Imigração, antigo palacete dos príncipes. 

 

Com o crescimento populacional, e o alargamento das ruas do Príncipe e Rio Branco, na década de 1880, quatro palmeiras precisaram ser sacrificadas — duas de cada extremidade da alameda. Com a vida estimada em cerca de 150 anos, algumas das palmeiras originais plantadas por Fréderic Brüstlein morreram e o primeiro replantio aconteceu no início do século 20. 

 

Por cerca de 90 anos, como aborda Maria Cristina no livro Ruas de Joinville, a via foi caminho de charretes e carros a motor e ganhou ainda mais força como ponto turístico. Em 1973, a então Alameda Brüstlein sofreu sua primeira intervenção de maior impacto, quando foi fechada para o trânsito de veículos, ajardinada e transformada em “boulevard”, com projeto do artista Juarez Machado.

 

A outra foi em 2012, quando a gestão municipal executou um projeto de requalificação, abrindo novamente um caminho central levemente sinuoso para circulação de pedestres. Nesta ocasião, foram também feitos trabalhos arqueológicos no local, durante os quais se encontram vestígios da ocupação daquele espaço, que remontam ao início da colonização da cidade, menciona Dilney Cunha.

 

Jordi Castan, paisagista que esteve envolvido nesta última ação, avalia que, ao longo de 150 anos, houveram mudanças felizes e outras infelizes na Rua das Palmeiras. Ele reforça, entretanto, que essas intervenções que visam a manutenção das palmeiras imperiais, como o replantio das que morrem por idade, por exemplo, são necessárias para que a história seja mantida e o patrimônio preservado.

 

Se olhar a Rua das Palmeiras de longe, dá pra ver claramente que existem  dois tetos de palmeiras: as mais altas, que são mais velhas, e as mais novas, mais baixas. Desta forma, se garantiu que Joinville não ia perder nunca a Rua das Palmeiras — avalia.

Nos dias atuais, o plano do governo municipal é de investir em uma nova iluminação —  tanto ao longo da rua quanto nas palmeiras — e mais segurança para quem circula pelo trecho, com postes anti-choques e estrutura anti-furtos para fios de cobre. A execução deste projeto deve começar em março. 


Além do embelezamento, o plano anual é investir ainda mais na saúde e vigor das plantas que cercam o espaço. Guilherme Gassenferth, secretário de Cultura e Turismo, reforça que a via é especial não só pelo aspecto visual e botânico, mas também pelo papel de centralidade que carrega desde os primórdios da Colônia Dona Francisca. 

 

O joinvilense tem uma paixão muito grande pela rua e a enxerga como símbolo máximo da cidade. A maioria do povo joinvilense nasceu com a Rua das Palmeiras já formada, então ela tem essa característica de ser um espaço de orgulho. É por isso que temos o dever de manter ela bem cuidada, para que os turistas, e especialmente quem vive aqui, possam ter este sentimento. Ela é um oásis ao centro: tem pássaros cantando e, mesmo num dia quente, não é tão quente embaixo [das palmeiras]. Um espaço especial de joinville e do joinvilense — pontua.


Em maio do ano passado, a prefeitura removeu seis pés de palmeiras da rua, já que cinco estavam mortas e uma com o tronco danificado. A reposição desses pés deve ocorrer nos próximos dias. 


O governo municipal também está reformando um prédio que fica na Rua das Palmeiras, erguido no início do século passado e servia como ateliê do fotógrafo Fritz Hofmann. Comprado em 2012 pelo município e será transformado em centro de formação e usado para treinamento da secretaria de Educação. A parte térrea será aberta ao público e contará com galeria de arte e local de conveniência. A previsão é de que as obras sejam concluídas em 18 meses.

"O joinvilense tem uma paixão muito grande pela rua e a enxerga como símbolo máximo da cidade."

GUILHERME GASSENFERTH, secretário de Cultura e Turismo

Confira o antes e depois da Rua das Palmeiras
Confira o antes e depois da Rua das Palmeiras

Uma rua presente na história de Joinville

Rua das Palmeiras de Blumenau

Tal como em Joinville, a Alameda Duque de Caxias, popular Rua das Palmeiras de Blumenau, é um espaço destinado a memórias. Sueli Petry, diretora do Patrimônio Histórico Museológico da cidade, narra que, ao traçar esta via para compor o cenário da porta de entrada do Stadtplatz, o fundador, Dr. Hermann Bruno Otto Blumenau, se inspirou nos moldes das grandes metrópoles europeias do século XIX. 

 

Enquanto que na Europa árvores ornamentavam as alamedas, cita, em Blumenau, as palmeiras  Jerivá, muito comuns e abundantes no litoral catarinense e baixadas da Serra Geral, foram utilizadas para embelezar a principal avenida da época. 

 

A historiadora diz que registros mostram que a monumentalização da então chamada “Palmanalle” começou a partir de 1876, com a ornamentação de 100 unidades da palmeira identificada, pelo botânico João Geraldo Kuhlmann, como sendo da espécie “Arecastrum Romanzoffianum”.

 

— Em determinado período do ano, esta espécie frutificava “coquinhos”, apreciados pelos nativos que viviam na região no tempo da colonização — destaca. 

 

Localizada ao centro, Sueli afirma que a rua presenciou o “vai e vem” de imigrantes, o percurso diário de personagens como Hermann Blumenau, que tinha casa nesta avenida, do Pastor Osvaldo Hesse, de Fritz Muller, de Rose Gaertner, Bertha Blumenau e seus filhos, além de tantos outras figuras que, mesmo no anonimato, contribuíram para a manutenção de sua história. 

 

Dos grandes eventos produzidos no local, a historiadora cita os do Theaterverein Frohsinn (Sociedade Teatral Blumenau) e da Sociedade dos Atiradores, quando seus associados dirigiam-se à casa do cônsul alemão Victor Gaertner (hoje sede do Museu da Família Colonial) para saudar a bandeira alemã, conforme a tradição do Schützenfest da época. Muitas autoridades ao longo do tempo também pisaram na via, entre as quais destaca-se a visita do Conde D’Eu, do Rei da Saxônia, em 1928. 

 

Com o falecimento do vice-diretor da colônia, a via pública recebeu a denominação Boulevard Hermann Wendeburg, de 1883 a 1899. Depois, esta designação alterou-se para Avenida Dr. Blumenau, de 1899 a 1942. 

 

— E, finalmente, por conta da II Guerra Mundial, conforme o Decreto Lei nº68, de agosto de 1942, sob a alegação de “nacionalizar”, o título de Alameda Dr. Blumenau foi substituído para dar lugar ao patrono do Exército Brasileiro, e desta forma este espaço, considerado o berço da história da cidade, passou a chamar- se Alameda Duque de Caxias — relata.

 

Do nascimento de empreendimentos tradicionais, como a Banca Miro, sucesso nos anos 50, ao Hotel Brasil e, posteriormente, a Casa Comercial Carlos Kofke, o caminho das palmeiras também serviu como ponto final de ônibus, abrigou às suas margens o campo do Brasil Esporte Clube, depois Palmeiras E.C., e guardou, por mais de 30 anos, a estátua de bronze de Dr. Blumenau. Em 1999, a escultura foi levada na parte frontal do Mausoléu Dr. Blumenau, já que os restos mortais do fundador e familiares estão depositados neste monumento. 

 

Para além de passeio público e de transportes de uso particular ou coletivo, a rua não é formada apenas por acontecimentos positivos. Sueli afirma que, desde sempre, o local foi e continua sendo “atormentado periodicamente pelas águas do Itajaí quando ocorrem as cheias”. 

 

Citando as intervenções mais recentes, em 2007, o Sindicato da Indústria da Construção de Blumenau (Sinduscon) presenteou a cidade com o monolítico intitulado “Marco Inicial de Blumenau”. 

 

Com este projeto, segundo Sueli, o espaço histórico foi revitalizado com a iluminação das palmeiras, colocação de bancos e a instalação do “Marco Inicial de Blumenau”.

Expediente

Reportagem: Sabrina Quariniri

Fotografia e vídeo: Tiago Ghizoni

Edição de vídeo: Luiza Lobo

Design e desenvolvimento: Ciliane Pereira

Arte e infografia: Ben Ami Scopinho

Edição e revisão: Lucas Paraizo

Imagens históricas: Arquivo Histórico de Joinville

Publicado em 9/3/2023