Iara Campolin é professora de Educação Física na Escola Indígena de Ensino Fundamental Fen’Nó, mora no Toldo Chimbangue, a 30 quilômetros de Chapecó, onde também cursa Pedagogia. Aos 32 anos, é casada, duas vezes mãe e tornou-se a primeira mulher indígena a ocupar uma cadeira na Câmara de Vereadores de Chapecó.
Na eleição de 2020 somou 361 votos. Eleita suplente do vereador Valdir Carvalho (PT), assumiu a titularidade em outubro de 2021 num período de 45 dias em que o titular se afastou. Iara tornou-se a primeira indígena a representar uma etnia em 104 anos de história do Legislativo do município:
– Meu trabalho foi o de tentar dar visibilidade às temáticas relacionadas às necessidades das comunidades indígenas locais, como espaços de lazer, sinalização da rodovia que corta nosso território (SC-283) e mais vagas para a Educação Infantil.
É dela a ideia de criar um espaço na área central da cidade onde os indígenas possam desenvolver a cultura, com dança e música, e expor a produção, como artesanato, ervas medicinais, comida típica. A expectativa é de que como titular da vaga possa retomar a sugestão.
No geral, Iara considera que a respeito desses temas foi bem aceita pelos colegas de parlamento. O que já não aconteceu quando apresentou uma proposta de construção de uma estátua na área central da cidade. O monumento seria uma homenagem à Ana Maria da Luz, a Fen’Nó, que dá nome a escola onde Iara dá aulas para crianças e adolescentes.
– Isso me deixou muito triste. Lembro que fui chorando da Câmara de Vereadores até a aldeia. Nossa ideia era fazer uma estátua que mostrasse para as pessoas o papel desta mulher que andou por Brasília e outras cidades lutando pela retomada do Chimbangue – conta.
Iara recorda que a reprovação teve como argumento os custos para os cofres públicos.
– Ali sim, acho que foi preconceito com a questão indígena. Mas achamos que não deveria, pois a gente sempre esteve aqui, mesmo antes da chegada do colonizador, e até o nome da cidade é indígena – pondera.
No perímetro urbano de Chapecó, existe, desde 25 de agosto de 1981, uma homenagem aos desbravadores. Criado pelo artista plástico Paulo de Siqueira, mostra a figura de um gaúcho empunhando um machado, como símbolo do trabalho. Na mão esquerda, um louro lembra a conquista e a vitória. O monumento possui 14 metros de altura, 5,70 metros de largura e pesa nove toneladas. A obra é um cartão de visitas e ponto de identificação da cidade.
De acordo com a assessoria de imprensa da Câmara de Vereadores de Chapecó, a moção de apelo ao prefeito para a construção da estátua foi retirada de pauta porque o mandato da suplente se extinguiu. A assessoria informa que a própria vereadora, quando em exercício, deixou sobrestado (sem andamento) no período em que exercia o mandato e isso teria feito com que a moção nem entrasse em votação.