O mês de setembro é de comemorações para os Xokleng, pois marca o início da pacificação da etnia com o povo branco. O marco é o dia 22 e se volta para o ano de 1914, quando ocorreu o primeiro contato do grupo com Eduardo de Lima e Silva Hoerhann. Naquele dia, e num ato de coragem, como escreveu o antropólogo Silvio Coelho, o sertanista atravessou o rio Plate nu e desarmado, para confraternizar com os indígenas no espaço de uma clareira.
No mesmo ano também foi reservada uma área de cerca de 37 mil hectares para os Xokleng. O objetivo parecia simples: enquanto eles ficavam restritos ao espaço, o restante das terras era entregue aos colonizadores, que passaram a registrá-las nos cartórios do município de Ibirama. Em 1956, a demarcação é realizada pelo Serviço de Proteção Indígena (SPI) com apenas 14 mil hectares.
A aproximação de Hoerhann com os indígenas teve grande repercussão em todo o Brasil pelo ineditismo da ação, e também trouxe dificuldades para o sertanista, principalmente pelo choque cultural entre as propostas do SPI, onde trabalhava, as intenções dos colonizadores e o modo de viver dos Xokleng.
Em 1915, ele próprio escreveu em relatórios ter sido procurado por fazendeiros, que se diziam representantes da região e desejavam “acabar com a imundície”. A ideia era envenenar os indígenas através da distribuição de carne de gado com veneno. Os fazendeiros locais tinham uma estratégia: se o SPI “havia conseguido reunir uma boa parte dos Xokleng e sediá-los em um território comum”, era uma excelente chance de exterminá-los.
Mais tarde, em 1926, seria Hoerhann o responsável por assegurar junto ao governo do Estado de Santa Catarina, as terras que, apesar da totalidade descrita não estarem de posse dos indígenas, são legalmente do povo Xokleng.