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Nos botões abaixo, entenda mais sobre cada fenômeno que atinge Santa Catarina e o impacto de cada um deles e por que eles ocorrem no nosso Estado
Em um Estado castigado pelo excesso de chuvas, a falta dela também é um problema. Os períodos secos no Oeste já afetaram tanto a vida do produtor de soja Gelsemir Piaia, 52, que poucos sabem que esse é o nome do “Colono Sofrido”, como é chamado o morador de Chapecó. No ano passado, conta o trabalhador, uma estiagem forte prejudicou o desenvolvimento da lavoura de cerca de mil hectares e, mais uma vez, deixou o homem no vermelho.
O agricultor não está sozinho nessa conta. De todos os eventos climáticos extremos que ocorrem em Santa Catarina, a estiagem soma os maiores prejuízos privados, justamente pelas perdas nas plantações, mostra um estudo da Defesa Civil. Foram mais de R$ 7,3 bilhões em quase 30 anos e cerca de 242,2 mil pessoas afetadas. Mas se engana quem pensa que falta chuva no Oeste.
O atlas climatológico de Santa Catarina mostra que a região mais seca é o Sul. No Oeste, o acumulado anual de chuva varia entre 1,5 mil e 2,1 mil milímetros, assim como parte do Litoral Norte, o ponto mais chuvoso do Estado. O problema é que no Oeste os recursos hídricos são mal distribuídos, explica o secretário de Estado da Proteção e Defesa Civil, Luiz Armando Schroeder. Ou seja, em períodos com menos chuva, como no verão, não dá para contar com grandes reservatórios e atender a demanda nas plantações e criações de animais.
Como o sistema meteorológico que leva chuva para o Oeste é diferente do restante do Estado, pode haver períodos de estiagem (quando a falta da água pluvial prejudica a economia) e seca (quando afeta o consumo humano).
Distante do mar, esse ponto de Santa Catarina não sofre tanta com a influência da umidade oceânica, que facilita a formação de nuvens em cidades litorâneas. Além disso, o fenômeno La Niña, que é o resfriamento das águas do Pacífico próximo à costa do Peru, influencia diretamente na diminuição das chuvas no Oeste.
O La Niña muda toda a dinâmica da atmosfera e o direcionamento dos fluxos de ar, o que deixa a região mais seca durante o período do fenômeno. E, fora esse impacto, que é intensificado pelas mudanças climáticas, o Oeste está geograficamente em um ponto que depende de outros fatores para chover, lembra o meteorologista do Instituto Federal de Santa Catarina, Mário Quadro:
— Depende em geral de frentes frias, que geram tempestades — detalha Mário Quadro.
Muitas chuvas de tempestades que se formam no Oeste caem com tanta força que causam erosão nos solos, criando outro problema para a agricultura. O biólogo Mário Freitas acrescenta que essas irregularidades associadas a uma terra com dificuldades de retenção de água (já que historicamente sofreu com o desmatamento) torna o problema complexo. O profissional é um dos organizadores do relatório técnico sobre a seca no Oeste encomendada pela Defesa Civil.
O documento ressalta que a decretação de estiagem como desastre não está relacionada exclusivamente a esses intervalos de dias sem chuva, mas ao impacto ao agronegócio, que precisa de muita água e com constância.
— Santa Catarina tem água, às vezes até demais, mas tem que saber gerir — pontua Freitas.
O agrônomo Diego Alessio, 40, aprendeu na prática a gerenciar a questão. Ele e o irmão cuidam da enorme lavoura da família (são cerca de mil hectares) em Faxinal dos Guedes, distante a 59 quilômetros de Chapecó, e aperfeiçoaram o plantio direto, uma técnica pioneira em Santa Catarina iniciada pelo pai deles.
Na agricultura defendida pelo profissional, a inspiração vem da floresta. Em vez de arar o solo, os produtores optam por semear sob uma camada de outras plantas verdes (chamadas de cultura de cobertura), que são amassadas para criar uma palha de proteção. Já que não é possível controlar os eventos climáticos, os proprietários dominam a terra, que dessa forma corre menos riscos de erosão e retém água por mais tempo, essencial para as épocas de estiagem.
A técnica dá tantos resultados que, diferentemente da maioria dos agricultores, não é a família que recorre ao governo do Estado em busca de conhecimento para driblar os problemas nas lavouras, mas sim o contrário. Uma parceria público-privada promoveu em maio o 1º Encontro Catarinense de Agricultura Regenerativa, onde Diego, o irmão, a Epagri e outros profissionais puderam falar a centenas de agricultores sobre a prática sustentável.
— Temos que desenvolver um ambiente mais resiliente para essas intempéries. Vivemos em um estado que vale ouro. Nós temos tudo, estações bem definidas, água, temperatura… Estamos na nata do país, mas temos que saber cuidar — acredita o agrônomo.
O diretor de Gestão de Desastres de Santa Catarina, Cesar Nunes, concorda que é preciso melhorar a gestão das bacias hídricas para criar verdadeiros reservatórios naturais sem esquecer da preservação de mananciais e ampliação da rede de esgoto (para evitar o ‘adoecimento’ dessas águas).
— A estiagem no Oeste representa um problema muito sério. Não que faltem ações, mas as mais efetivas dependem de uma política pública forte de Estado que efetivamente melhore esse desempenho — acredita o diretor.
São medidas esperadas por uma população que depende do agro para sobreviver e que não quer ficar refém dos extremos do clima catarinense e nem ser “Colono Sofrido” para sempre.
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Expediente
Reportagem: Bianca Bertoli
Imagens: Patrick Rodrigues, Tiago Ghizoni, Ulisses Job, Daniel Conzi, Diorgenes Pandini, Artur Moser, Gabriel Lain, Juliano Zanotelli, Guto Kuerten, Alvarelio Kurossu, Sandro Scheuermann, Jandyr Nascimento, Adelor Schuster, Diego Redel, Sirli Freitas, Leo Munhoz, Jessé Giotti, Max José Koche, Marcia Zenf, Ricardo Duarte, Claudio Silva
Design e desenvolvimento: Ciliane Pereira
Pesquisa e infografia: Ben Ami Scopinho
Edição: Augusto Ittner