Santa Catarina já registrou furacão, está na principal rota de tornados da América do Sul e tem um ciclone bomba como protagonista do maior desastre com ventos do Estado. Por que tantos vendavais por aqui?

A posição geográfica de Santa Catarina contribui para a formação de sistemas que trazem não só chuva, como também vendavais. Esses fenômenos normalmente acontecem durante uma tempestade ou durante a passagem de ciclones, segundo a Defesa Civil, e são o terceiro evento mais comum no Estado, atrás apenas das enxurradas e da estiagem. 

 

 

Quando se olha o número de pessoas afetadas, porém, os vendavais ultrapassam o segundo colocado com mais de 1,4 milhão de moradores prejudicados entre os anos 1990 e 2019, ainda conforme o órgão. Entre as regiões mais propensas a este tipo de ocorrência estão a de Blumenau, Chapecó e, principalmente, a de Araranguá. 

 

 

Araranguá foi uma das 14 cidades que declarou estado de calamidade pública em 2004, quando um fenômeno inédito atingiu o Estado: o furacão Catarina. Diferentemente dos ciclones extratropicais, comuns em SC, o furacão tem origem tropical, o que tornou a situação extremamente atípica.  

— O Catarina estava numa região que não era dele, as águas estavam quentes [o que ajudou no deslocamento do furacão]. Nunca se esperava, mas já que apareceu um, não é impossível acontecer outro — explica a meteorologista do Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia (Ciram), Maria Laura Rodrigues.

Quem presenciou um dos maiores vendavais da história catarinense não esquece. O então sargento dos bombeiros de Araranguá, Nilson Gonçalves, esteve no olho do furacão. Ele era o chefe de socorro no dia em que o fenômeno chegou à região e foi o responsável por passar os alertas à população pelas rádios, além de acompanhar uma das equipes que atendeu os chamados. 

 

Enquanto trabalhava, viu a própria casa, em Balneário Arroio do Silva, cidade por onde o furacão entrou, ter 80% das telhas arrancadas. 

 

— Uma telha da minha casa furou a parede do imóvel vizinho. Poderia ter causado uma tragédia. O barulho do vento parecia de um monstro… Uivava, era assustador  — recorda.

 

Para conseguir atender as ocorrências de quedas de árvores, destelhamento e mal-estar de moradores que não aguentavam o que viam, os socorristas chegaram a se deslocar rolando no chão para não serem levados pelo vento. Nas rádios, o sargento mandou todos ficarem dentro de casa, sob a laje. Até hoje tem quem encontre Nilson na rua e agradeça pela orientação, que salvou muita gente.

Em 26 anos de profissão, o furacão entrou para a história de Nilson como uma das ocorrências mais marcantes. Foram mais de 24 horas de trabalho intenso de socorristas de vários locais do Estado que ajudaram o Litoral Sul a se reerguer. E se antes o sargento achava graça de quem dizia que tinha medo de vento, depois do Catarina o posicionamento é outro: 

 

— Quando bate um vento eu fico preocupado, ainda mais que moro perto da praia — revela. 

 

O Catarina deixou 33,1 mil desabrigados, 78 feridos, 11 mortos e prejuízo à época de R$ 850 milhões.

Lugar propício

Apesar do Catarina ter se tornado emblemático, ele foi o único furacão registrado até hoje no Estado. Já os vendavais trazidos por outros sistemas são mais corriqueiros. Mesmo assim, não deixam de ser assustadores, como foi o ciclone bomba que atingiu 204 cidades, desalojou 11,5 mil pessoas e feriu 112 em 2020, sendo considerado pelo governo do Estado o maior desastre com ventos da história de Santa Catarina. 

 

 

O ciclone bomba é um dos tipos de ciclone extratropical. Esse sistema traz chuva e fortes ventos e se originam no encontro das massas de ar quente e frio. Por conta da localização do Estado entre trópicos, esse fenômeno é muito comum, mas nem sempre causa estragos.

 

 

A meteorologista Maria Laura Rodrigues explica que cada ciclone atua com intensidade diferente, mas a maioria passa pelo mar, o que gera ventos no litoral e agitação no oceano, mas não necessariamente grandes estragos. 

 

 

Além disso, a formação deles depende do frio, por isso são mais comuns entre o outono e o inverno. A fórmula ganha um componente extra quando se analisa a influência do aquecimento global, detalha o meteorologista do Instituto Federal de Santa Catarina, Mário Quadro.

— Quando aumenta a temperatura, aumenta toda a dinâmica da atmosfera, a intensidade dos ventos…Isso faz com que os vendavais ocorram com mais intensidade e as chuvas também.

Furacão Catarina arrancou árvores inteira no Sul do Estado.

Furacão e tornado

Outro fenômeno extremo que pode causar grandes estragos é o tornado. Diferentemente do furacão, que é possível acompanhar o deslocamento por se tratar de um sistema grande, de fácil visualização, o tornado é mais difícil de a meteorologia prever justamente por causa do tamanho e da rápida duração. Porém, o Oeste de Santa Catarina é o mais suscetível ao fenômeno em toda a América do Sul pela posição geográfica e pela região de planalto. 

Muitas vezes o tornado é de tão baixa intensidade que nem chega a ser registrado. Em um período de mais de 20 anos, a Defesa Civil documentou mais de 30 ocorrências, que afetaram pouco mais de 70 mil moradores, principalmente da região de Chapecó. Entre os tornados históricos dos últimos 50 anos estão os que aconteceram em Guaraciaba (2009) e Xanxerê (2015), no Oeste.

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Expediente

Reportagem: Bianca Bertoli
Imagens: Patrick Rodrigues, Tiago Ghizoni, Ulisses Job, Daniel Conzi, Diorgenes Pandini, Artur Moser, Gabriel Lain, Juliano Zanotelli, Guto Kuerten, Alvarelio Kurossu, Sandro Scheuermann, Jandyr Nascimento, Adelor Schuster, Diego Redel, Sirli Freitas, Leo Munhoz, Jessé Giotti, Max José Koche, Marcia Zenf, Ricardo Duarte, Claudio Silva
Design e desenvolvimento: Ciliane Pereira
Pesquisa e infografia: Ben Ami Scopinho
Edição: Augusto Ittner

Publicado em 26/6/2023